FILODOXIA - é um sistema de pensamentos ou de crenças baseada na retórica. Pretende tratar questões filosóficas por puro diletantismo, sem se preocupar em resolver de fato essas questões ou chegar a respostas rigorosamente verdadeiras. Isso porque a filodoxia parte do pressuposto que não existe a verdade. O filodoxo parte de pressuposto de que nunca existirão respostas às perguntas que se formulam, por isso, impregnam de força as suas opiniões pessoais.
Existem mais definições para filodoxia e filodoxos, tais como apego exagerado às próprias opiniões, defesa da verdade individual, amantes da crença infundade e irrefletida e outras definições que sugerem que seria melhor ao leitor que evitasse, a todo custo, passar por este blog.
Porém a escolha do nome tem uma razão.Não se pretende aqui, despejar assuntos, e dar preferência ao discurso mais eloqüente sobre o mesmo ainda que este seja, paradoxalmente, o mais infundado. Nem parto do pressuposto de que, por talvez não existir uma verdade única para as questões abordadas, que a minha opinião prevalecerá sobre as demais. A escolha deste nome foi uma ironia.
Aqui, uma verdade não prevalecerá sobre outra, pois cada um tem para si o que considera ético e moral. Cada um tem sua própria ideologia. A escolha deste nome deve-se a característica de que ninguém é dono da verdade e que, se todos expormos as nossas, poderemos chegar, se não a um senso comum, pelo menos a um amálgama de idéias que contribuirá para estremecer alguns de nossos paradigmas.
Não se pretende, então, chegar a uma verdade que sobrepujará todas as outras, mas pretende-se promover o debate saudável e inteligente, onde nossos conceitos serão testados e nossas crenças postas à prova. Não há vencedores ou perdedores e aquele que tiver sido posto à prova e sair convencido de que os seus argumentos iniciais não foram embasados em firmes alicerces, feliz dele, que pôde se libertar de mais um paradigma que o agrilhoava ao escravizante concreto das idéias pré-concebidas.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Bíblia Sacrílega: e todos dizem Amém!

O motivo deste tópico não é falar mal de nenhuma religião em particular. Não pretendo aqui falar mal das religiões. O motivo deste texto é levantar a indignação que sinto quando as pessoas tentam justificar suas ações preconceituosas e outras igualmente repreensíveis, com base em passagens da bíblia que lhes convém. Justificam que agem assim porque Deus quer. Se tá escrito, deve ser verdade.

Devo salientar que falar sobre a bíblia discordando de algumas passagens não é ofender, é exprimir uma opinião, que deve ser respeitada como qualquer outra. Acho importante frisar que este tópico vai falar da bíblia e não das religiões que a seguem. Mais especificamente, das pessoas que usam antolhos, que não acompanharam as mudanças do mundo e que serão, não obstante, esmagados pela roda do progresso.

A Lei da Palmada e a Bíblia
Recentemente, foi passada a Lei da Palmada (Projeto de Lei n.º 2654/03), aprovada na Câmara dos Deputados, tornando ilegal a violência física contra as crianças, mesmo que seja a chamada palmada educativa. Pelo que andei lendo, este Projeto de Lei visa alterar o Art. 18 do ECA. Só não consegui verificar se trata-se da Lei 8069/90 ou da Lei 10764/03. Esta Lei, já aprovada pela Câmara, deve ser votada ainda no congresso.



Algumas pessoas estão aflitas e preocupadas quanto à sanção da Lei. Alguns há que citam a bíblia, para justificar a agressão física das crianças:

Não retires a disciplina da criança; pois se a fustigares com a vara, nem por isso morrerá. Tu a fustigarás com a vara, e livrarás a sua alma do inferno.
Provérbios 23:13,14

Homofobia e a Bíblia
Existe um movimento querendo criminalizar a homofobia. Eu particularmente, sou favorável a uma Lei que puna a agressão, seja ela qual for. Malgrado este pensamento, não posso negar que algumas pessoas são agredidas apenas por sua orientação sexual. O único "crime" que elas cometem são serem homossexuais. Durante a parada gay no Rio, dia 14/11/2010, um jovem de 19 anos foi baleado no Arpoador por um sargento do Exército.

Outro caso que chamou a atenção da mídia foi a agressão ocorrida contra gays na Avenisa Paulista, em SP. O agressor bateu com uma lâmpada fluorescente em um jovem que caminhava na direção contrária. O vídeo do ocorrido mostra que a agressão foi gratuita e a vítima foi pega de surpresa.


Muitas pessoas argumentam que não há nada de mais em ser homofóbico, que não há nada de mais em não gostar de gays e que a igreja deve combater a homossexualidade (eles chamam de homossexualismo), pois está na bíblia:

Com homem não te deitarás, como se fosse mulher; abominação é;
Levíticos, 18:22 (Antigo Testamento)

Quando também um homem se deitar com outro homem, como com mulher, ambos fizeram abominação; certamente morrerão; o seu sangue será sobre eles.
Levíticos, 20:13 (Antigo Testamento)

Néscios, infiéis nos contratos, sem afeição natural, irreconciliáveis, sem misericórdia;
Os quais, conhecendo a justiça de Deus (que são dignos de morte os que tais coisas praticam), não somente as fazem, mas também consentem aos que as fazem.
Romanos 1:31,32 (Novo Testamento)

Por isso Deus os abandonou às paixões infames. Porque até as suas mulheres mudaram o uso natural, no contrário à natureza. E, semelhantemente, também os homens, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, homens com homens, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a recompensa que convinha ao seu erro.
Romanos 1:26,27 (Novo Testamento)

Estas são as passagens da bíblia, entre outras, que pregam a violência e a intolerância. Muitos argumentam que deve-se levar em conta o contexto histórico e que não se deve interpretar a bíblia ao pé da letra. Ora, se isto é verdade, porque então utilizam estas passagens para justificar a palmada nos filhos e a homofobia?

Muitos confiam cegamente no que está escrito nos textos sagrados, mas muitos também desconhecem como estes textos foram escritos, quando e sob quais circunstâncias.

A primeira coisa a se considerar é que Jesus nada escreveu. Ele seguia seu caminho e pregava ao vento. Os apóstolos, enquanto seguiam Jesus, também nada escreveram. Ninguém ficava de caderninho e lápis na mão anotando tudo o que ele falava. Mesmo porque, não existia caderninho e a maioria não sabia escrever. E mesmo que soubessem, as escritas tinham que ser em papiro, e custava caro. Ninguém tinha dinheiro para isso, com excessão dos escribas.

Muito tempo depois da morte de Jesus, que começou a haver a preocupação em escrever a História, pois a tradição oral tem por característica a mutilação da história original. Já ouviram o ditado "quem conta um conto aumenta um ponto"? Já brincaram de "telefone sem fio"? É assim: você diz uma frase, pode ser curta, no ouvido de uma pessoa. Não pode repetir, diga uma vez só e ela que se vire se entendeu ou não. Esta pessoa, por sua vez, faz o mesmo com a pessoa do lado, e assim sucessivamente, até a última pessoa. Basta um grupo pequeno, 7 ou 8 pessoas, para que o último diga em voz alta a frase que ele recebeu do penúltimo participante, e saia algo sem o menor sentido, totalmente diferente da mensagem original.

Agora imaginem só, se em poucos minutos de brincadeira, a mensagem original se deturpa completamente, mesmo sendo uma única frase, imaginem a tradição oral, passada para milhares de pessoas, ao longo de 60 anos, sobre não uma frase, mas toda uma vida?

Do ano 60 ao 80 apareceram as primeiras narrações escritas. E os escritos eram fragmentários, mostrando que sofreram vários enxertos, inclusive com várias caligrafias diferentes, mostrando que não somente uma pessoa colocou sua "versão da história" ali.


O evangelho de Lucas e de Mateus só surgiram no fim no primeiro século. Do ano de 98 ao de 110 surgiu, em Éfeso, o de João.

Muitos outros evangelhos surgiram. O próprio Lucas informa que muitos já tentaram por em ordem a narração dos fatos ( Lucas, 1:1, Novo Testamento). Dezenas de evangelhos vieram à tona e ficava difícil definir qual certo, qual errado, pois eram discordantes entre si.

Muitos destes textos foram considerados falsos pela Igreja, já no século II e III. Porque será? Qual foi o critério para rejeitar uns e aprovar outros?

O que sempre acontecia, eram os chamados concílios. Vejam aqui e aqui para melhores informações, mas, resumidamente, os concílios determinavam as questões religiosas, e cada concílio aumentava ou suprimia alguma coisa sobre a religião. Ou seja, após séculos da morte de Cristo, após todas as deturpações naturais devidas ao tempo, os concílios ainda alteravam mais ainda, ao seu bel prazer os dogmas da igreja.


 
Muitos de vocês, mesmo crentes, afirmam, por exemplo, que Jesus é Deus. Pois saibam que isto foi motivo de discórdia mesmo dentro da Igreja. Muitos rejeitavam a divindade de Jesus. Foi em um concílio, que isto foi determinado, ou seja, imposto aos fiéis. Foi uma invencionice tão grande que muitos continuaram rejeitando esta idéia. Até mesmo o Espírito Santo não existia. Ele foi inventado pela Igreja Católica. Os protestantes herdaram essa invenção e a tomam até hoje, por verdadeira. Nos originais, se é que podemos chamar um papiro cheio de alterações de original, não existia sequer menção à esta divindade. Existia apenas "espírito". O "santo" foi colocado à mão, alterando o sentido original, espremido entre a palavra "espírito" e a palavra que vinha logo após. Já dizia Renato Russo, "quem me dera ao menos uma vez entender como um só Deus ao mesmo tempo é três, e que este mesmo Deus foi morto por vocês..." Pois é. A tradição judaica cria em Deus único e esta crença da divina trindade, que foi outra invenção, forma um paradoxo: O Pai é Deus, O Filho é Deus, O Espírito Santo é Deus, mas só existe um Deus. Pronto, isto é questão de fé e não cabe a ninguém entender: são os mistérios de Deus. Só esqueceram de avisar a Deus que agora ele não reina sozinho, e que Ele teria este mistério para resolver, que não tinha antes.

A fim de por termo a todas estas controvérsias e a por ordem em tantos e tantos textos sagrados, espalhados pelo mundo, dos quais as pessoas em casa possuíam uma cópia, é que no ido ano de 384, o Papa Damaso manda um clérigo, São Jerônimo, fazer uma tradução para o Latim do Antigo e do Novo Testamento.


São Jerônimo ainda ficou apreensivo, pois ele deveira escolher entre tantos papiros, quais que serviam e quais que não serviam. Este trabalho ficou conhecido como a Vulgata Latina.

Não só isso, ele deveria "retocar" os escritos, de forma a que todos ficassem de acordo com as idéias da Igreja.

Por isso, na própria introdução desta tradução, ele escreve ao Papa, informando que teme ser chamado de herege por todos aqueles que, tendo o "original" grego em mãos, não o acusará de estar deturpando os ensinamentos:
"De velha obra me obrigais a fazer obra nova. Quereis que, de alguma sorte, me coloque como árbitro entre os exemplares das Escrituras que estão dispersos por todo o mundo e, como diferem entre si, que eu distinga os que estão de acordo com o verdadeiro texto grego. (...), mas é também um perigoso arrojo, da parte de quem deve ser por todos julgado, julgar ele mesmo os outros, querer mudar a língua de um velho e conduzir à infância o mundo já envelhecido."
Fonte: Livro "Cristianismo e Espiritismo", de Leon Denis, ISBN: 9788573285376

Mesmo esta tradução ainda foi alterada algumas vezes, em 1546, no Concílio de Trento, e ainda em 1590 por Sixto V, e ainda modificada por Clemente VIII com uma nova edição.

Bom, isto tudo já seria suficiente para pensar duas vezes antes de citar a bíblia para justificar os nossos preconceitos e nossas atitudes repreenssíveis.

Se não é suficiente ainda tenho a perguntar:
Quais as últimas palavras de Jesus na Cruz?
Em Mateus 27:46 foi "E perto da hora nona exclamou Jesus em alta voz, dizendo: Eli, Eli, lamá sabactâni; isto é, Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?"

Em Lucas, 26:46 foi "E, clamando Jesus com grande voz, disse: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito. E, havendo dito isto, expirou."

Em João 19:30 foi "E, quando Jesus tomou o vinagre, disse: Está consumado. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito."

Quando se deu a ascensão de Jesus?

Segundo Atos dos Apóstolos, 1:3 foi 40 dias após sua morte. Já para Marcos, Mateus, Lucas e João, foi no mesmo dia da ressurreição.

O que tem essas passagens a ver com a palavra de moral, com os ensinamentos na bíblia. Aparentemente nada. Não importa, realmente, quais as últimas palavras de Jesus, ou quando se deu a ascenção. Apenas que, se a bíblia é contraditória nestas pequenas coisas, quem garante que não estará incorrendo em erro nas mais importantes?
Lembro que estamos falando aqui no Novo Testamento, ou seja, livros muito mais recentes que o Antigo. Se mesmo o Novo já não é confiável devido ao tempo, devida às "correções" da Igreja, devido às adulterações dos copistas que transcreviam a mensagem de papiro a papiro à medida que estes começavam a degradar, imagina o que não deve ter acontecido ao velho testamento.


Enfim, existem outras inúmeras proibições e ordens de Deus, como mulher menstruada não pode ser sequer tocada, como não comer carne de porco, e outras tantas, que ninguém segue, que nem valem a pena mencionar. Se não seguem estas orientações corriqueiras da bíblia, porque vão escolher seguir justamente a parte de pancadas nos filhos e da homofobia?

Creio que o que eu quis transmitir, eu consegui, que é por por terra os falhos argumentos dos que dizem "faço isso porque está na bíblia".

Vale a pena conferir também: A Bíblia do Cético.
Quem gostou do último vídeo, poderá também gostar de: Show de perguntas - Contradições da Bíblia